#3 Newsletter No Ar
"No Ar". O que achou do nome para a newsletter? Foi o nome do meu podcast de mesmo tema que, infelizmente, "por motivos de força maior", à época precisou sair do ar. Ressurge como newsletter 😎
A sua ceia de Natal está encarecendo a passagem aérea
Parece até uma piada exagerada, mas, sim, os quilinhos a mais que ganhamos no inverno afetam a operação das linhas aéreas. Associe os quilinhos do inverno do hemisfério norte com as ceias de Thanksgiving, de Natal e celebrações de final de ano, então! As roupas tendem a encolher, né?
Nos EUA, uma das suas maiores companhias aéreas, a United, precisou restringir o número de assentos em suas aeronaves Boeing 757 devido ao aumento da média de peso dos passageiros. Como passageiros e malas de mão não são pesados e o cálculo de peso da aeronave é feito sobre uma média estatísticas… bem, essa média subiu, afetando o centro de gravidade da aeronave, cálculo de combustível e outros itens associados diretamente ao peso do avião, principalmente na hora da decolagem.
Segundo a autoridade aeronáutica do país (FAA), o “peso médio de inverno” da mulher norte-americana (incluindo mala de mão) subiu entre 2019 e 2022 de 68kg para 83kg. Dos homens, a média subiu de 86kg para 93kg no mesmo período. Por isso, a United passará a bloquear até seis assentos do meio, entre as fileiras 16 e 40, em todos os seus voos no B757 para atender aos requisitos técnicos da aeronave. A medida é provisória e tem vigor de primeiro de novembro deste ano até 30 de abril de 2023. Não é só o peso do passageiro que subiu, mas nesse período os passageiros tendem a vestir e a carregar mais roupas de frio, além de notarem que eles têm enchido mais as suas malas de mãos.
Para uma aeronave que cabe até 279 passageiros, bloquear seis assentos pode não parecer muito. Mas, sendo uma das maiores companhias aéreas do país, ao multiplicar isso pelo número de aeronaves e voos - principalmente no período de final de ano, o prejuízo é claro. E, naturalmente, isso reflete no valor da passagem aérea. A United tomou a mesma medida no período de inverno do hemisfério norte entre 2021 e 2022.
Ou seja, quando ouvir uma piadinha de peru de Natal este ano, pelo menos terá um fato curioso para compartilhar com o seu tio.
(O Lito, do Aviões & Músicas, fez um short no Youtube explicando o cálculo de peso de uma aeronave, como sempre, bem didático. Lito… divulga eu!)
Caças? Sim, produzimos.
Ainda é um pouco de exagero dizer que produzimos o caça Gripen E/F (designado F-39 na Força Aérea Brasileira) no Brasil mas, sim, concluímos uma importante etapa do seu desenvolvimento nacional: a produção da primeira fuselagem dianteira do caça foi concluída na fábrica da Saab no Brasil.
A fuselagem dianteira é onde fica assentado o piloto, assim como onde são instalados o assento ejetável, comandos de voo, o canopi, o radar, os displays de cabine e toda a aviônica da aeronave. É a parte mais complexa da fuselagem a ser montada, composta de aproximadamente 1.500 partes e 14.500 prendedores.
Agora, a peça será enviada para a Suécia para compor a cadeira global de suprimentos para a produção dos próximos caças. Outras estruturas do modelo já foram construídas no Brasil, inicialmente de menor complexidade, como cone de cauda e freios aerodinâmicos.
Em 2014, a FAB assinou acordo com a Saab para a transferência de tecnologia, desenvolvimento e entrega de 36 caças Gripen E/F. Em 2022, o lote inicial foi ampliado em quatro unidades; e um novo lote de 26 unidades foi anunciado. As entregas do primeiro lote estão previstas para até 2027. As primeiras entregas aconteceram em 2022, tendo quatro aeronaves já em operação pela FAB.
A Europa está levando a melhor na batalha pela China
A China é um mercado atrativo para qualquer ramo. Qualquer ramo. Nesta semana foi anunciada a compra de 140 aeronaves Airbus num negócio de 17 BILHÕES de dólares pela holding China Aviation Supplies (CAS). Serão 132 aeronaves da família A320 e oito da família A350. Mas isso não é tão grande quanto outro negócio fechado em julho: simplesmente 292 aeronaves da família Airbus A320 para quatro companhias aéreas chinesas, em um negócio de US$ 37 bilhões.
As entregas devem ocorrer de 2024 a 2027. Ao todos, esses dois negócios da China (ba-dum-tsss - trocadilho não intencional) somam 424 aeronaves. Para você ter uma ideia do que é isso, em 2019, ano antes da pandemia, a Airbus entregou 863 aeronaves. Ou seja, as duas vendas representam praticamente a metade do que a montadora entregou em seu melhor ano. Até maio deste ano, a China possuía 2070 aeronaves Airbus voando do país. Assim, a China caminha para se tornar o maior mercado aéreo do mundo, faltando superar apenas os EUA.
E tem concorrente novo?
Enquanto grandes negócios são fechados, a montadora estatal chinesa COMAC acabou de receber certificação da autoridade civil nacional (CAAC) para o C919, em desenvolvimento desde 2008. O seu porte e categoria o colocam em concorrência com a família Airbus A320 e Boeing 737. A aeronave pretende suprir o mercado doméstico e a sua certificação, por enquanto, permite entrar em serviço e voe apenas dentro da China. Nesta semana, em um airshow na China, na cidade de Zuhai, um pedido de 300 aeronaves do modelo foi confirmado.
Internet estratosférica movida a energia solar
Ele é bonito? Não. Parece um avião? Tirando que tem asas, também não. Mas, convenhamos, voa e voa muito bem. E serve também como uma espécie de “antena voadora” de internet.
Nesta semana, a Airbus HAPS assinou uma carta de intenções (LOI) com a Space Compass Corporation do Japão, para um acordo de fornecer serviços de conexão a internet e de observação. A intenção é oferecer sinais de 4G/5G de maneira econômica para locais remotos com pouco ou nenhum acesso a Internet.
O Zephyr, como é chamada essa aeronave não tripulada movida a energia solar (possui baterias para se manter à noite), voa em altitudes elevadas. Daí, o seu nome HAPS: High Altitude Platform Stations (Estação Plataforma de Alta Altitude - tradução minha). É capaz de voar durante meses sem a necessidade de pousar ou de reabastecer, a uma altura de mais de 21.000 metros (70.000 pés), muito acima do tráfego aéreo e variações meteorológicas.
É um acumulador de recordes: Em 2021, atingiu a altitude de 76.100 pés. Em 2022, ficou mais de 64 dias na estratosfera, percorrendo cerca de 260.000km, o equivalente a seis voltas e meia na Terra.
O seu emprego pode variar conforme a necessidade do operador, mas uma de suas possibilidades é o de replicar sinal de internet via satélite para antenas no solo. A sua abrangência equivale a 250 antenas terrestres!
A Airbus HAPS é uma subsidiária da fabricante europeia, cujo objetivo é desenvolver serviços ambientalmente amigáveis por meio da sua plataforma Zephyr.
“Mais informações, depois da vitória”
Desta forma termina o tuíte da conta oficial da fabricante Antonov, após afirmar que um novo An-225 Mriya, maior aeronave do mundo, está sendo construído. Assim que a Rússia invadiu a Ucrânia, no dia 24 de fevereiro deste ano, e deu início a guerra que ainda se estende (ou “operação militar especial”, como determina o Putin à imprensa russa), uma série de bombardeios deu o tom. Não bastasse o horror por si só, a comunidade aeronáutica ficou enlutada com a destruição do único exemplar do maior avião do mundo.

No dia 07/11 a sua fabricante anunciou que já possui cerca de 30% das peças para a sua reconstrução, que usará também partes de um segundo modelo que nunca chegou a ser concluído. Avaliam também o que poderá ser reciclado do modelo destruído. A empresa estima que o custo total da (re)construção ficará em cerca de 500 milhões de Euros. Não deu estimativa de quando ficará pronto.
Aeronave que se tornou símbolo da força ucraniana e da sua indústria, ela virou uma espécie de orgulho nacional e a sua reconstrução certamente significaria um golpe na Rússia nessa guerra de discursos. Não à toa, o local da sua reconstrução é mantido em segredo.
É o que temos para essa semana!
E aí, tem gostado das notícias que eu compartilho aqui? Se você conhece alguém que gosta de aviação tanto quanto ou mais que você, que tal compartilhar com ele e ajudar este jovem gafanhoto que vos fala a crescer a sua newsletter?







